sábado, 27 de março de 2010

ONDE OU AONDE?

Uma dúvida muito frequente diz respeito ao emprego correto de “onde” e “aonde” na frase. É muito comum ouvirmos: “Onde você mora?” ou “Aonde você mora?”. Afinal, qual a forma adequada?
A primeira informação que devemos ter é que “onde” sempre está relacionado à noção de “lugar”. Sendo assim, a intenção do falante, ou o contexto da frase, deve expressar essa ideia de local em que se realiza algo. Se não houver tal situação comunicativa, essa palavra não deve ser empregada.
A fim de que possamos saber quando usar um ou outro, devemos atentar para o tipo de verbo a que está relacionado. Se o verbo exige uma circunstância de lugar iniciada com a preposição “em”, há de se fazer o uso de “onde”. Por exemplo, o verbo “morar”. Alguém mora EM algum lugar. Logo fazemos a seguinte construção: “Onde você mora?”. O mesmo acontece com o verbo “estar” acompanhado dessa circunstância. Alguém está EM algum lugar. Daí a frase: “Onde você está?”.
Quando, porém, o verbo exige que a circunstância venha iniciada pela preposição “a”, a construção é feita com “aonde”. Isso ocorre, por exemplo, com o verbo “ir”. Alguém vai A algum lugar. Portanto a pergunta deve ser: “Aonde você vai?”. Tal uso também se dá com o verbo “chegar”. Alguém chega A algum lugar. Sendo assim, a interrogação é: “Aonde você chegou?”.
Outra informação importante a respeito do “onde” é que, sendo palavra indicativa de “lugar”, só pode substituir um termo que apresente também essa ideia. Hoje em dia, entretanto, é comum o uso generalizado de “onde”, ou seja, independentemente de seu antecedente indicar “lugar”, constrói-se a frase com ele. Como podemos verificar isso? É preciso se certificar sobre a natureza da palavra anterior a ele. Na frase “Ele vive numa cidade onde as pessoas se cumprimentam nas ruas.”, o “onde” tem como antecedente a palavra “cidade”, a qual tem a ideia de “lugar”. Nesse caso, o seu uso está perfeito. Agora, na sentença “A situação onde ele se encontra é muito complicada.”, é possível observar que o “onde” vem antecedido da palavra “situação”. O questionamento é o seguinte: “situação” expressa a noção de “lugar”? A resposta é não! Logo o emprego do “onde” está inadequado. Nesse caso, ele deve ser substituído por “em que” ou “na qual”. Outro exemplo: “Ele me contou sobre o acidente onde o motociclista quebrou a clavícula.” Voltamos ao raciocínio anterior: “acidente” indica “lugar”? Não, é um fato, um acontecimento! Por isso o “onde” não pode ser empregado; é preciso substituí-lo por “em que” ou “no qual”.
Em resumo: o “onde” e o “aonde” não podem ser utilizados de modo aleatório. Há de se analisar o contexto frasal em que se encontra e, só depois disso, escolher a forma adequada. Como são palavras específicas para expressar a ideia de “lugar”, é necessário atentar para tal condição antes de empregá-las como substitutas de um termo anterior.

(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 484, Cabo Frio, sábado, 8-8-2009, p.4)

sexta-feira, 26 de março de 2010

quarta-feira, 24 de março de 2010

NEM TUDO QUE SE OUVE FALAR EXISTE!

A finalidade maior da língua é permitir uma comunicação ampla e eficiente entre os indivíduos de uma mesma nação. Para isso, é necessário que haja uma estrutura básica a ser respeitada pelos falantes. Acontece, porém, que a obediência de todos é um ideal, pois há sempre espaço para as transgressões, as mudanças e as inovações, o que, inclusive, mantém a língua viva.
Na fala, ocorrem inúmeras alterações do padrão linguístico. Algumas são como epidemias: contaminam, rapidamente, uma grande quantidade de pessoas, que passam a usar determinadas estruturas de forma equivocada. Como se diz por aí: a moda pega. Aqui vão alguns exemplos desse fenômeno linguístico.
Antes só encontrada em situações muito específicas, a palavra “asterisco” tem sido muito utilizada hoje, em função do uso dos rádios transmissores, em cuja estrutura aparece tal símbolo, como, por exemplo, 24*33392 ou 24*33*392. O problema é que muita gente desconhece a forma correta e, na hora de informar o seu ID (código de identificação), tem dito erradamente “asterístico” (que não existe no Português!). O engraçado é que esse uso vai de encontro ao princípio de menor esforço do falante, o qual, nesse caso, preferiu aumentar o tamanho da palavra a pronunciá-la originalmente.
Com a falta de espaço nas cidades, é comum vermos condomínios com as moradias duplicadas, grudadas umas às outras. Ao contrário do que se ouve, essas casas são “geminadas” (palavra vinda do latim “geminare”, que quer dizer “duplicar”), e não “germinadas”. Observe que elas são iguais, como se fossem gêmeas (ou gêminas). Se pudéssemos plantá-las para que brotassem da terra, naturalmente, sem precisarmos gastar tanto dinheiro para adquiri-las, aí poderíamos dizer que eram “germinadas”. Será que alguém ainda acha que aquela frase da Carta de Pero Vaz de Caminha a respeito das terras brasileiras, na época do descobrimento, vale para a aquisição da casa própria: “E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo”? Isso explicaria o termo “germinada”, pois era só plantarmos uma casa, e ela germinaria na terra que escolhêssemos.
Já que estamos falando de casa, o nome daquela janela com batentes móveis que permite a entrada de ar e de luz sem devassar o interior é “basculante”. Isso acontece pelo fato de ela possuir um “básculo”, ou seja, aquela peça móvel, apoiada num pino, que permite sua abertura e seu fechamento. O mesmo nome se dá ao caminhão que possui essa articulação. Ele também é chamado de “basculante”, uma vez que sua caçamba pode ser elevada para despejar o material nela existente, devido à presença dessa peça móvel. A forma “vasculhante” não existe, pode acreditar!
O que podemos observar é que algumas formas usadas incorretamente na fala passam a ser incorporadas também na escrita, causando grande confusão quanto ao emprego correto. Precisamos deixar nossos ouvidos e olhos bem atentos aos casos aqui mencionados, para que não “escorreguemos” na fala ou na escrita do dia a dia e manchemos nossa imagem de falante competente da língua portuguesa.


(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 480, Cabo Frio, quinta-feira, 23-7-2009, p.4)

terça-feira, 16 de março de 2010

PENSAMENTO DA SEMANA

"Todo homem, orador, escritor ou poeta, todo homem que usa da palavra, não como um meio de comunicação de suas ideias, mas como de um instrumento de trabalho, deve estudar e conhecer a fundo a força e os recursos desse elemento da sua atividade." (José de Alencar)

domingo, 14 de março de 2010

PRONÚNCIA TAMBÉM MERECE RESPEITO

No nosso cotidiano, surgem muitas dúvidas a respeito da grafia ou pronúncia de determinadas palavras. Como a língua falada é um meio de comunicação direto e mais rápido, nem sempre há a possibilidade de se verificar a correção quanto ao uso de um termo ou expressão dentro da frase. Alguns equívocos consagram-se na fala de tal modo, que passam a ser empregados por boa parte das pessoas, assumindo o lugar da forma correta, que, por sua vez, torna-se estranha aos ouvidos. A incorporação, muitas vezes, atinge o discurso de pessoas dotadas de certo prestígio social, como figuras públicas ou profissionais que trabalham, de alguma forma, com a língua portuguesa (apresentadores de rádio e televisão, atores, jornalistas, políticos, entre outros).
A fala, porém, é tão importante no estudo da língua portuguesa que existe um ramo da gramática que se preocupa exclusivamente com a correta pronúncia das palavras: a ortoepia ou ortoépia. Por meio dela, podemos conhecer a forma correta de palavras e expressões que causam dúvidas na hora de se falar. Daí a necessidade de, de vez em quando, a visitarmos a fim de não trocarmos o certo pelo duvidoso.
Alguns usos impróprios já adquiriram tradição e vêm passando de geração em geração. A palavra “gratuito” é uma delas. Ao contrário do muita gente pensa, e fala, o encontro “ui” é um ditongo, logo deve ser pronunciado numa única enunciação: gra-tui-to. Por isso fique atento e duvide se lhe oferecerem algo “gra-tu-í-to”. Com certeza, aí tem alguma coisa errada. O mesmo acontece com “fluido” (flui-do), “fortuito” (for-tui-to) e “intuito” (in-tui-to).
O uso de “rubrica” (isso mesmo: ru-“brí”-ca) é recordista em estranhamento. Geralmente, acredita-se que constitui um vocábulo proparoxítono (cuja sílaba tônica é a antepenúltima), e muitos a pronunciam com tal. Acontece, porém, que sua sílaba tônica é o “bri”, uma vez que é uma paroxítona (cuja sílaba tônica é a penúltima). Assim como comemos “canjica”(principalmente agora com as festas juninas e julinas), devemos escrever a nossa “rubrica”.
Já que nos referimos a uma palavra recordista, lembramos outra paroxítona: “recorde”. Essa é muito usada no meio esportivo também como proparoxítona (acentuando-se a sílaba “re” e com a abertura da vogal “e”: “récôrdi”), mas a sílaba que deve receber a acentuação na fala é “cor”, e o “re” deve ter a vogal fechada: “rêCóRdi”.
Outro emprego já consagrado é o de “ruim”. O carioca, principalmente, instituiu “rúim” (tornando “ru” a sílaba tônica) como a forma certa. Depois que criaram a gíria “É ruim, hein.”, fica até difícil se falar “ru-ím”, pronunciando-a como oxítona, a forma correta da palavra.
Esses poucos exemplos mostram como podemos difundir erros de pronúncia no nosso cotidiano. Uma vez que a fala funciona como um instrumento a serviço da comunicação de seus usuários, é importante estarmos atentos a ela e nos informarmos a respeito da correção de uma determinada pronúncia de uma palavra, principalmente quando se encontram duas formas circulando na língua.
(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 475, Cabo Frio, quinta-feira, 16-7-2009, p.4)

segunda-feira, 8 de março de 2010

PENSAMENTO DA SEMANA

"A receita para a perpétua ignorância é permanecer satisfeito com suas opiniões e contente com seus conhecimentos.
Se você achar que sabe tudo, não haverá possibilidade de aprender algo novo.
Se você agir como um estudioso da vida, estará na posição de aprender algo novo todos os dias.
Eu o incentivo a ver seu mundo com os olhos de uma criança para apreciar novamente a magia do aprendizado
." (Elbert Hubbard)

quinta-feira, 4 de março de 2010

A IMPORTÂNCIA DA FALA

O mundo moderno vive da comunicação, haja vista a globalização como o fenômeno que sustenta todas as relações (sociais, políticas, econômicas e culturais) na sociedade contemporânea. Apesar disso, vivemos um momento paradoxal: enquanto os meios de comunicação se desenvolvem rapidamente, ampliando-se as formas de se trocar informações, a língua tem sofrido muitas transformações e interferências, a fim de torná-la mais objetiva, concisa e suficientemente restrita ao essencial.
Toda língua tem duas faces: a escrita e a fala. São duas modalidades bem específicas, que se complementam, mas uma não pode substituir a outra em todas as situações. Existem ocasiões em que nós preferimos uma a outra, ou somos obrigados a escolher a mais adequada socialmente para estabelecer a comunicação.
Geralmente se pensa que somente a língua escrita deve receber uma atenção especial quanto ao respeito às normas gramaticais. A fala estaria dispensada disso, por ter uma natureza mais espontânea e, por isso, mais informal. Acontece que as variedades linguísticas fazem parte das duas modalidades. É o contexto que determinará se o uso da língua se fará de modo culto ou popular, independentemente de ser por meio da escrita ou da fala.
A civilização atribui à língua escrita uma maior importância, uma vez que é ela a responsável pelo registro da história da humanidade. A fala, no entanto, não pode ser considerada um modo inferior de se comunicar, em contraposição à escrita. Ambas constituem a representação do pensamento, a forma como o indivíduo expõe suas ideias e sentimentos. Por isso é necessário que os cuidados com a escrita sejam destinados também à fala.
Como a língua falada, mais usada no nosso cotidiano, dispõe de recursos específicos, como, por exemplo, a entonação, os gestos, a expressão facial, entre outros, algumas questões de natureza gramatical são deixadas de lado, a fim de que a comunicação seja estabelecida de maneira mais rápida e imediata. A consequência disso é que determinadas estruturas da língua são alteradas, e o falante, de tanto ouvir essa construção, perde a noção de que certas regras fundamentais foram desrespeitadas. Inclusive, é comum se estranhar o uso correto, achando-o “feio”, que “soa mal aos ouvidos”.
É preciso, portanto, que a fala seja foco de nossa atenção, uma vez que não a utilizamos apenas para transmitir ideias. Ela também revela quem somos, denunciando, pelo emprego de determinadas palavras e expressões, nosso nível social, escolar e, por vezes, nossos valores. Com ela, demonstramos nossa capacidade comunicativa, o que pode facilitar ou dificultar, dependendo do nosso desempenho, o relacionamento pessoal e profissional na sociedade.
Tendo em vista essa reflexão, nos próximos artigos, abordaremos o uso indevido de determinadas estruturas linguísticas, as quais, na língua falada, passam despercebidas. Essas construções, inclusive, são alvo certo de questões de língua portuguesa em concursos, visto que, quase sempre, os candidatos já as internalizaram, principalmente pelo emprego constante na fala.

(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 470, Cabo Frio, quinta-feira, 9-7-2009,p.4)

segunda-feira, 1 de março de 2010

FRASE DA SEMANA

"Feliz daquele que ensina o que aprende, e que aprende o que ensina." (Cora Coralina)