segunda-feira, 5 de outubro de 2009

HÍFEN: TER OU NÃO TER? EIS A QUESTÃO.

O novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa trouxe várias alterações no uso do hífen em palavras compostas. Tendo em vista contradições e omissões da reforma, algumas dessas regras, tiveram a necessidade de serem discutidas e esclarecidas pela Academia Brasileira de Letras. Com isso, a interpretação feita, unilateralmente, pelos linguistas brasileiros determinou o que representava no texto da lei as expressões “certos compostos”, “em certa medida”, “noção de composição” e os vários “etc.” (até mesmo nas exceções), o que, ainda, suscita algumas polêmicas.

De maneira geral, o espírito sugerido pelo Acordo de se levar à queda do hífen foi respeitado pela ABL, e as exceções ficaram restritas às palavras citadas antes do termo “etc”. Após essas decisões, já nos é possível identificar o que especificamente mudou nas regras do uso do hífen. Essa normatização já está sistematizada no mais recente Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (mais conhecido entre os especialistas como VOLP).

Agora, não há hífen nos casos em que o primeiro elemento termina por vogal diferente da que inicia o segundo: antiaéreo, autoajuda, autoescola, autoestrada, autoexame, contraindicação, extraoficial, infraestrutura, intrauterino, neoimperialista, semiaberto, semiautomático, semiárido. Se as vogais forem iguais, mantém-se o hífen: auto-observação, contra-almirante, arqui-inimigo, micro-ondas, micro-ônibus, semi-interno. Para esse caso, a exceção se restringe ao elemento “co”, que mantém a junção: coobrigação, coocupante, coordenação, cooperação.

Quando o primeiro elemento termina por vogal e o segundo, por “r” ou “s”, não se emprega mais o hífen, mas há a necessidade de se duplicar tais consoantes: antessala, antirreligioso, autorretrato, antirrugas, antissocial, arquirrivalidade, autorregulamentação, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregimento, extrasseco, extrassístole, infrassom, intrarrenal, minissaia, missérie, suprarrenal, suprassensível, ultrarromântico, ultrassonografia, ultrassecreto.

Um dos pontos mais polêmicos quanto à queda do hífen foi a observação relacionada a “certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição”, tais como girassol, madressilva, mandachuva, paraquedas, paraquedista, pontapé. As questões são: 1) se não há pesquisas científicas sobre essa perda de “noção de composição”, quais os critérios para a relação dessas palavras? 2) o que se quer dizer, precisamente, com a expressão “em certa medida”? 3) se o texto da lei termina a lista com “etc.”, como saber quais são essas outras palavras?

Um aspecto novo no Acordo diz respeito aos nomes de lugares, para os quais, antes, não havia nenhuma regra. Aqueles iniciados por “grã” ou “grão” ou por verbo recebem hífen (Grã-Bretanha, Grão-Pará, Passa-Quatro), assim como os ligados por artigo (Baía de Todos-os-Santos). Já Guiné-Bissau e Timor-Leste figuram como exceções à regra.

Outro caso novo é o das palavras relacionadas a espécies vegetais e animais, que devem ser grafadas com hífen. Assim, temos água-de-coco, azeite-de-dendê, couve-flor, bem-te-vi, bico-de-papagaio para a planta. Para o problema de coluna ou de nariz adunco, a forma é bico de papagaio, uma vez que está fora desse contexto.

A última novidade da reforma está nas palavras que se ligam, formando encadeamento vocabular, como, por exemplo, ponte Rio-Niterói, ponte aérea Rio-São Paulo, que, agora, devem ser unidas pelo hífen. Antes, a escrita era feita com o uso do travessão (“–“). Ou seja: é só diminuir o tamanho do traço.

A ABL fez várias sugestões para preencher as lacunas deixadas pelo novo Acordo Ortográfico. Para nós, brasileiros, no entanto, tais orientações assumem o valor de lei, o que não é certo de ser acatado por Portugal. Devemos ter atenção, inclusive, às publicações didáticas ditas “atualizadas conforme o acordo”, feitas no ano passado com o propósito de garantir a cota de venda ao governo brasileiro, uma vez que não trazem as últimas decisões da ABL.

Na realidade, é preciso muita calma nessa hora: temos até 2012 para internalizar tudo isso!

(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 455, Região dos Lagos, quinta-feira, 18-6-2009, p.4)

2 comentários:

  1. Achei muito legal a criação deste blog muita imaginação parabéns pela exelente didática....
    Estou aprendendo muito
    Beijos
    Elisangela (aluna da matéria on line)

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  2. Obrigada pela participação. O objetivo é justamente proporcionar um conhecimento mais amplo da língua portuguesa. Acompanhe nossos artigos e mande sugestões.

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