quinta-feira, 4 de março de 2010

A IMPORTÂNCIA DA FALA

O mundo moderno vive da comunicação, haja vista a globalização como o fenômeno que sustenta todas as relações (sociais, políticas, econômicas e culturais) na sociedade contemporânea. Apesar disso, vivemos um momento paradoxal: enquanto os meios de comunicação se desenvolvem rapidamente, ampliando-se as formas de se trocar informações, a língua tem sofrido muitas transformações e interferências, a fim de torná-la mais objetiva, concisa e suficientemente restrita ao essencial.
Toda língua tem duas faces: a escrita e a fala. São duas modalidades bem específicas, que se complementam, mas uma não pode substituir a outra em todas as situações. Existem ocasiões em que nós preferimos uma a outra, ou somos obrigados a escolher a mais adequada socialmente para estabelecer a comunicação.
Geralmente se pensa que somente a língua escrita deve receber uma atenção especial quanto ao respeito às normas gramaticais. A fala estaria dispensada disso, por ter uma natureza mais espontânea e, por isso, mais informal. Acontece que as variedades linguísticas fazem parte das duas modalidades. É o contexto que determinará se o uso da língua se fará de modo culto ou popular, independentemente de ser por meio da escrita ou da fala.
A civilização atribui à língua escrita uma maior importância, uma vez que é ela a responsável pelo registro da história da humanidade. A fala, no entanto, não pode ser considerada um modo inferior de se comunicar, em contraposição à escrita. Ambas constituem a representação do pensamento, a forma como o indivíduo expõe suas ideias e sentimentos. Por isso é necessário que os cuidados com a escrita sejam destinados também à fala.
Como a língua falada, mais usada no nosso cotidiano, dispõe de recursos específicos, como, por exemplo, a entonação, os gestos, a expressão facial, entre outros, algumas questões de natureza gramatical são deixadas de lado, a fim de que a comunicação seja estabelecida de maneira mais rápida e imediata. A consequência disso é que determinadas estruturas da língua são alteradas, e o falante, de tanto ouvir essa construção, perde a noção de que certas regras fundamentais foram desrespeitadas. Inclusive, é comum se estranhar o uso correto, achando-o “feio”, que “soa mal aos ouvidos”.
É preciso, portanto, que a fala seja foco de nossa atenção, uma vez que não a utilizamos apenas para transmitir ideias. Ela também revela quem somos, denunciando, pelo emprego de determinadas palavras e expressões, nosso nível social, escolar e, por vezes, nossos valores. Com ela, demonstramos nossa capacidade comunicativa, o que pode facilitar ou dificultar, dependendo do nosso desempenho, o relacionamento pessoal e profissional na sociedade.
Tendo em vista essa reflexão, nos próximos artigos, abordaremos o uso indevido de determinadas estruturas linguísticas, as quais, na língua falada, passam despercebidas. Essas construções, inclusive, são alvo certo de questões de língua portuguesa em concursos, visto que, quase sempre, os candidatos já as internalizaram, principalmente pelo emprego constante na fala.

(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 470, Cabo Frio, quinta-feira, 9-7-2009,p.4)

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