domingo, 14 de março de 2010

PRONÚNCIA TAMBÉM MERECE RESPEITO

No nosso cotidiano, surgem muitas dúvidas a respeito da grafia ou pronúncia de determinadas palavras. Como a língua falada é um meio de comunicação direto e mais rápido, nem sempre há a possibilidade de se verificar a correção quanto ao uso de um termo ou expressão dentro da frase. Alguns equívocos consagram-se na fala de tal modo, que passam a ser empregados por boa parte das pessoas, assumindo o lugar da forma correta, que, por sua vez, torna-se estranha aos ouvidos. A incorporação, muitas vezes, atinge o discurso de pessoas dotadas de certo prestígio social, como figuras públicas ou profissionais que trabalham, de alguma forma, com a língua portuguesa (apresentadores de rádio e televisão, atores, jornalistas, políticos, entre outros).
A fala, porém, é tão importante no estudo da língua portuguesa que existe um ramo da gramática que se preocupa exclusivamente com a correta pronúncia das palavras: a ortoepia ou ortoépia. Por meio dela, podemos conhecer a forma correta de palavras e expressões que causam dúvidas na hora de se falar. Daí a necessidade de, de vez em quando, a visitarmos a fim de não trocarmos o certo pelo duvidoso.
Alguns usos impróprios já adquiriram tradição e vêm passando de geração em geração. A palavra “gratuito” é uma delas. Ao contrário do muita gente pensa, e fala, o encontro “ui” é um ditongo, logo deve ser pronunciado numa única enunciação: gra-tui-to. Por isso fique atento e duvide se lhe oferecerem algo “gra-tu-í-to”. Com certeza, aí tem alguma coisa errada. O mesmo acontece com “fluido” (flui-do), “fortuito” (for-tui-to) e “intuito” (in-tui-to).
O uso de “rubrica” (isso mesmo: ru-“brí”-ca) é recordista em estranhamento. Geralmente, acredita-se que constitui um vocábulo proparoxítono (cuja sílaba tônica é a antepenúltima), e muitos a pronunciam com tal. Acontece, porém, que sua sílaba tônica é o “bri”, uma vez que é uma paroxítona (cuja sílaba tônica é a penúltima). Assim como comemos “canjica”(principalmente agora com as festas juninas e julinas), devemos escrever a nossa “rubrica”.
Já que nos referimos a uma palavra recordista, lembramos outra paroxítona: “recorde”. Essa é muito usada no meio esportivo também como proparoxítona (acentuando-se a sílaba “re” e com a abertura da vogal “e”: “récôrdi”), mas a sílaba que deve receber a acentuação na fala é “cor”, e o “re” deve ter a vogal fechada: “rêCóRdi”.
Outro emprego já consagrado é o de “ruim”. O carioca, principalmente, instituiu “rúim” (tornando “ru” a sílaba tônica) como a forma certa. Depois que criaram a gíria “É ruim, hein.”, fica até difícil se falar “ru-ím”, pronunciando-a como oxítona, a forma correta da palavra.
Esses poucos exemplos mostram como podemos difundir erros de pronúncia no nosso cotidiano. Uma vez que a fala funciona como um instrumento a serviço da comunicação de seus usuários, é importante estarmos atentos a ela e nos informarmos a respeito da correção de uma determinada pronúncia de uma palavra, principalmente quando se encontram duas formas circulando na língua.
(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 475, Cabo Frio, quinta-feira, 16-7-2009, p.4)

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